quarta-feira, dezembro 29, 2004

O Multi Artista de Volta


Os sites que indico:

Bia
Lu
Fúria do Mar
Escritor Solitário
Cinema, Literatura...
Cine Fila
Som Brasil
MPB Net
Entrecantos
PE A-Z
M-Música
Revista Continente


Estava certo de falar sobre frevo hoje no blog, mas quando cheguei em casa estava passando na TV Cultura um programa com Antônio Carlos Nóbrega, um especial que já tinha assistido e é muito interessante...
Então vi que tinha falado sobre ele na segunda semana do blog e resolvi repetir a homenagem, pois a cultura nordestina não tem maior representante, o engraçado é que foi o primeiro comentário da minha parceira Lu aqui no blog...
Ele criou em São Paulo o Teatro Brincante, cliquem ai no nome e vejam o site desse brilhante projeto, já gravou vários discos inclusive com o Quinteto Armorial na década de 70, no titulo tem o link para o seu site oficial e embaixo da foto, no seu nome, tem o link para a outra homenagem feita a ele aqui...
As músicas de hoje são os titulos dos três primeiros discos respectivamente, a última tem no primeiro e no terceiro disco e espero que todos se inspirem para conhecer esse multi artista:

Na Pancada Do Ganzá
(Antonio Nóbrega / Wilson Freire)
Eu estava em casa mastigando o pensamento,
Olhando pro firmamento, que era noite de luar.
E de repente uma estrela cadente,
Piscando na minha frente, parou pra me falar.
Ela me disse: meu poeta camarada,
Tome aqui, quero lhe dar um presente magistral.
E foi tirando do seu peito colossal
Um instrumento real que ela chamava Ganzá.
Meu ganzá, meu ganzarino, meu ganzarino real,
gira o mundo, treme a terra,e eu na pancada do ganzá.
Quando eu peguei meu ganzá pra cantar coco
Eu pensei que tava louco, eu não pude acreditar,
Pois na primeira batida da minha mão
Meu ganzá caiu no chão e deitou logo a falar:
Salve o coquista que chegou de longe agora
Você veio bem na hora de poder me resgatar da solidão
Onde eu tenho vivido, onde têm me escondido para eu não me revelar.
Sou um instrumento pequeno, feio, chinfrim
Que trago dentro de mim basculho pra sacolejar,
Garrafa velha qualquer coisa reciclada
Dou beleza ritmadaquando vêm me balançar.
Dou marcaçãopro samba, pro fox-trote
Pro baião, forró e xote e o que mais venham inventar.
E o que vier, até som do outro mundo,
Sou primeiro sem segundo na arte de ritmar.
E o ganzá se colou na minha mão,
Apertei ele e então senti forte um balançar.
Fazia assim: tum, tum, tum, tum, tum, tum, tum
Como no peito o baticum que tá pronto pra amar.
E fui cantando, fui dizendo ao ganzarino:
Te conheço de menino mas hoje fui te encontrar.
Ele falou: te conheço há bem mais tempo
Mas não vai ter contratempo que possa nos separar.
E disse mais: meu cantor, meu menestrel,
Eu conheço esses céus antes de Cabral chegar;
Pode ir me ver onde eu fui desenhado:
Pelo pré-homem datado lá na Pedra do Ingá.
Eu aprendi sobre ele e ele de mim,
E tem sido sempre assim e assim sempre será,
Pois nessa vida quem ensina sempre aprende
E a gente mais entende o que foi e o que virá.
Fomos cantandoo país do futebol,
D'Amazônia, praia e sol do Babau, do Boi-Bumbá
do São João, da Cavalhada do Repente,
Da Congada da Catira e do Guará
Esse país, feio, rico, pobre, lindo
Que eu não sei pr'onde tá indomas eu sei que chega lá.
Fomos ouvir a floresta tropical, o sertão,
O litoral ver a seca, a preamar por isso eu digo, meu amigo, camarada
Se não tá fazendo nada por que cê não vem pra cá?
Tire a gravata do pescoço, solte o nó, abra o peito e o gogó
Eu, você e meu ganzá.


Madeira que Cupim não Rói
(Capiba)
Madeira do Rosarinho
Vem à cidade sua fama mostrar,
E traz com seu pessoal
Seu estandarte tão original.
Não vem pra fazer barulho,
Vem só dizer, e com satisfação:
Queiram ou não queiram os juízes,
O nosso bloco é de fato o campeão!
E se aqui estamos cantando essa canção,
Viemos defender a nossa tradição,
E dizer bem alto que a injustiça dói,
Nós somos madeira de lei que cupim não rói.

Pernambuco Falando para o Mundo
(Antonio Nóbrega / Wilson Freire)
Pernambuco, preaca, pife e pandeiro
Esse é o encontro, é essa emoção
Rainhas e reis, reisado e rojão
Negros nagôs, navios negreiros
Ascenso, arrecife, angolas-arteiros
Maraca, mascates e maracatu
Baião, berimbau, batuque Bantu
Usina, umbigada, umburana, umbuzal
Capiba, calunga, calor, carnaval
Oxossi, Obá, Oxum, Olodu
Sou braço de mar, um rio caudaloso
No sertão sou seco, na mata estourado
Eu, nos arrecifes, um mar furado
A cova dos rios, salgado e formoso
E nesse meu céu azul luminoso
Ao sul de estrelas cruzeiro avistei
Por ele à noite no mar me guiei
Eu sou Paranã, sou Paranabuco
Falando pro mundo eu sou Pernambuco
A ler meu Brasil aqui comecei
Se alguém me escutar tinindo a garganta
Verá que meu canto desvenda segredos
Acaba mistérios, destrói todos medos
Herdeiro da voz sou de Dona Santa
Meu canto é sangue, é pedra que encanta
Desterra o tesouro no chão mais profundo
Eu sou um cantante, eu sou Viramundo
Se estou azougado, ninguém me segura
Acima de mim, só Deus nas alturas
Eu sou Pernambuco falando pro mundo

Chegança
(Antonio Nóbrega/Wilson Freire)
Sou Pataxó, sou Xavante e Cariri,
Ianonami, sou Tupi, Guarani, sou Carajá.
Sou Pancaruru, Carijó, Tupinajé,
Potiguar, sou Caeté, Ful-ni-o, Tupinambá.
Depois que os mares dividiram os continentes quis ver terras diferentes.
Eu pensei: vou procurar um mundo novo, lá depois do horizonte,
Levo a rede balançante pra no sol me espreguiçar
Eu atraquei num porto muito segura,
Céu azul, paz e ar puro, botei as pernas pro ar.
Logo sonheri que estava no paraíso,
Onde nem era preciso dormir para se sonhar.
Mas de repente me acordei com a surpresa:
Uma esquadra portuguesa veio na praia atracar.
De grande Nau, um branco de barba escura,
Vestindo uma armadurame apontou pra me pegar.
E assustado dei um pulo da rede, pressenti a fome, a sede,
Eu pensei: "vão me acabar".
Me levantei de borduna já na mão.
Ai, senti no coração, o Brasil vai começar.

Um abraço para todos:

Beto L. Carvalho
Carpe Diem
Posted by Hello

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