sábado, julho 31, 2004

O Homem da Cajuína

Hoje eu vou homenagear sobre um artista que é um dos maiores do mundo sem sombra de dúvidas:

Caetano Veloso

Ícone de uma geração, é um dos maiores compositores da história da MPB... Se for ficar falando sobre ele vai ser um post gigante, então para resumir:

http://www.caetanoveloso.com.br/

E como de praxe a música que eu considero um dos mais belos poemas vai para vocês e foi gravado por Gal Costa e também por Roberto Carlos:

Força Estranha
(Caetano Veloso)
Eu vi o menino correndo

Eu vi o tempo, brincando ao redor
Do caminho daquele menino
Eu pus os meus pés no riacho
E acho que nunca os tirei
O sol ainda brilha na estrada
E eu nunca passei
Eu vi a mulher preparando outra pessoa
O tempo parou pra eu olhar para aquela barriga
A vida é amiga da arte
É a parte que o sol me ensinou
O sol que atravessa essa estrada
Que nunca passou
Por isso uma força me leva a cantar
Por isso uma força estranha
Por isso é que eu canto
Não posso parar
Por isso essa voz tamanha
Eu vi muitos cabelos brancos
Na fronte do artista
O tempo não pára
E no entanto ele nunca envelhece
Aquele que conhece o jogo
Do fogo das coisas que são
É o sol, é a estrada
É o tempo
É o pé é o chão
Eu vi muitos homens brigando
Ouvi seus gritos
Estive no fundo de cada vontade encoberta
E a coisa mais certa de todas as coisas
Não vale um caminho sob o sol
É o sol sobre a estrada
É o sol sobre a estrada, é o sol
Por isso uma força me leva a cantar
Por isso uma força estranha
Por isso é que eu canto
Não posso parar
Por isso essa voz tamanha

Com poucas palavras me despeço, um abraço:

Beto L. Carvalho
blcarvalho@pop.com.br
bl_carvalho@yahoo.com.br

sexta-feira, julho 30, 2004

Poesia Matuta

A poesia nordestina tem alguns exemplos que devemos conhecer, pois é importante essa valorização para que não tenhamos que importar a cultura de outros locais...
Um grande exemplo da poesia matuta é um arquiteto paraibano chamado:

Jessier Quirino

Ele é um poeta de vários livros escritos com poemas e causos que orgulham esta região sofrida:

A Folha de Boldo - Notícias de Cachaceiros
Prosa Morena
Política de Pé de Muro - O Comitê do Povão
Chapéu Mau e Lobinho Vermelho
Agruras da Lata D'água
Paisagem de Interior

Os livros não estão por ordem, mas procurem eles...
Para encerrar eu tô colocando um poema, onde ele relembra um passado que dá gosto relembrar, dedico ele aos mais experientes:

Vou-me Embora Pro Passado
( Jessier Quirino)
Vou-me embora pro passado
Lá sou amigo do rei
Lá tem coisas "daqui, ó!"
Roy Rogers, Buc Jones
Rock Lane, Dóris Day
Vou-me embora pro passado.
Vou-me embora pro passado
Porque lá, é outro astral
Lá tem carros
VemaguetJeep Willes, Maverick
Tem Gordine, tem Buick
Tem Candango e tem Rural.
Lá dançarei TwistHully-Gully, Iê-iê-iê
Lá é uma brasa mora!
Só você vendo pra crê
Assistirei Rim Tim Tim
Ou mesmo Jinne é um Gênio
Vestirei calças de NycronFaroeste ou Durabem
Tecidos sanforizados
Tergal, Percal e BanlonVerei lances de anágua
Combinação, califon
Escutarei Al Di LáDominiqui Niqui Niqui
Me fartarei de GrapetteNa farra dos piqueniques
Vou-me embora pro passado.
No passado tem Jerônimo
Aquele Herói do Sertão
Tem Coronel Ludugero
Com Otrope em discussão
Tem passeio de Lambreta
De Vespa, de Berlineta
Marinete e Lotação.
Quando toca Pata Pata
Cantam a versão musical"Tá Com a Pulga na Cueca"
E dançam a música sapeca
Ô Papa Hum Mau Mau
Tem a turma prafrentex
Cantando Banho de Lua
Tem bundeira e piniqueira
Dando sopa pela rua
Vou-me embora pro passado.
Vou-me embora pro passado
Que o passado é bom demais!
Lá tem meninas "quebrando" ao cruzar com um rapaz
Elas cheiram a Pó de Arroz,da Cachemere BouquetCoty ou Royal Briar
Colocam Rouge e Laquê, english Lavanda Atkinsons
Ou Helena Robinstein
Saem de saia plissada ou de vestido Tubinho
Com jeitinho encabulado flertando bem de fininho.
E lá no cinema Rex
Se vê broto a namorar de mão dada com o guri
Com vestido de organdi com gola de tafetá.
Os homens lá do passado só andam tudo tinindo
De linho Diagonal,camisas Lunfor, a tal sapato Clark de cromo
Ou Passo-Doble esportivo ou Fox do bico fino
De camisas volta ao Mundo
Caneta Shafers no bolso ou Parker 51
Só cheirando a Áqua Velva
A sabonete Gessy
Ou Lifebouy, Eucalol
E junto com o espelhinhoPente Pantera ou Flamengo
E uma trunfinha no quengo
Cintilante como o sol.
Vou-me embora pro passado
Lá tem tudo que há de bom!
Os mais velhos inda usam Sapatos branco e marrom
E chapéu de aba largaRamenzone ou Cury Luxo
Ouvindo Besame MuchoSolfejando a meio tom.
No passado é outra história!Outra civilização..
Tem Alvarenga e Ranchinho tem Jararaca e Ratinho
Aprontando a gozação
Tem assustado à Vermuth ao som de Valdir Calmon
Tem Long-Play da Mocambo, mas Rosenblit é o bom
Tem Albertinho Limonta Tem também Mamãe Dolores,
Marcelino Pão e Vinho, tem Bat Masterson, tem Lesse
Túnel do Tempo, tem Zorro não se vê tantos horrores.
Lá no passado tem corso, lança perfume Rodouro
Geladeira Kelvinator
Tem rádio com olho mágico
ABC a voz de ouro
Se ouve Carlos Galhardo
Em Audições Musicais
Piano ao cair da tarde
Cancioneiro de Sucesso
Tem também Repórter Esso com notícias atuais.
Tem petisqueiro e bufê junto à mesa de jantar
Tem bisquit e bibelôTem louça de toda cor
Bule de ágata, alguidar
Se brinca de cabra cega, de drama, de garrafão
Camoniboi, balinheira, de rolimã na ladeira
De rasteira e de pinhão.
Lá, também tem radiola, de madeira e baquelita
Lá se faz caligrafia, pra modelar a escrita
Se estuda a tabuada de Teobaldo Miranda
Ou na Cartilha do Povo, lendo Vovô Viu o Ovo
E a palmatória é quem manda.
Tem na revista O Cruzeiro
A beleza feminina, tem misse botando banca
Com seu maiô de elanca, o famoso CatalinaT
em cigarros Yolanda, Continental e Astória
Tem o Conga Sete Vidas, tem brilhantina Glostora
Escovas Tek, Frisante,
Relógio Eterna MaticCom 24 rubisPontual a toda hora.
Se ouve página sonora, na voz de Angela Maria"- Será que sou feia?
- Não é não senhor!- Então eu sou linda?- Você é um amor!...
"Quando não querem a paquera, mulheres falam:
"Passando,Que é pra não enganchar!""Achou ruim dê um jeitim!"
"Pise na flor e amasse!"E AI e POFE! e quizila
Mas o homem não cochila
Passa o pano com o olhar
Se ela toma Postafen que é pra bunda aumentar
Ele empina o polegar, faz sinal de "tudo X"
E sai dizendo "Ô Maré!Todo boy, mancando o pé
Insistindo em conquistar.
No passado tem remédio pra quando se precisar
Lá tem Doutor de família que tem prazer de curar
Lá tem Água Rubinat,Mel Poejo e AsmapanBromi
l E Capivarol,Arnica, Phimatosan,Regulador Xavier
Tem Saúde da Mulher
Tem Aguardente Alemã
Tem também Capiloton, Pentid e Terebentina
Xarope de Limão Brabo,Píluas de Vida do Dr. Ross
Tem também aqui pra nós, uma tal Robusterina
A saúde feminina.
Vou-me embora pro passado
Pra não viver sufocado
Pra não morrer poluido, pra não morar enjaulado
Lá não se vê violência, nem droga nem tanto mau
Não se vê tanto barulho, nem asfalto nem entulho
No passado é outro astral
Se eu tiver qualquer saudade escreverei pro presente
E quando eu estiver cansado da jornada, do batente
Terei uma cama patente daquelas do selo azul
Num quarto calmo e seguro onde ali descansarei
Lá sou amigo do rei
Lá, tem muito mais futuro
Vou-me embora pro passado.

Maiores informações:

http://www.jessierquirino.com.br

Aquele velho abraço:

Beto L. Carvalho
bl_carvalho@yahoo.com.br
blcarvalho@pop.com.br


quinta-feira, julho 29, 2004

Espaço para os Amigos

Hoje eu vou falar sobre um cara que tem um futuro muito promissor como um artista da nova geração de músicos aqui de Recife:

Leo Rios

Carioca que tem alma pernambucana e que infelizmente deu uma parada na carreira, mas com certeza irá voltar e eu espero que seja o mais breve possivel...
Ele não tem nenhum disco lançado, só um demo que possui três músicas:

Adolá
Mil Faces
Janaina


Prestem atenção nessa letra que considero uma poesia da mais alta qualidade:

Adolá
(Léo Rios)
Pele que não se toca
Boca que não se beija
Sentimento evapora
Duvido que vá voltar
Tudo ficou Preto e Branco 

Dias, semanas em pranto
Mas fiz sozinho a mudança
Tô pronto para quem chegar
Foi meio assim sem resposta
Depois de tantas apostas
Mas ficou a certeza
De quem perdeu por não amar
Seja o que for não tem volta
Se quem fechou esta porta
Abortou a esperança
Semente que faz perdoar
Escravo em navio negreiro
Conselho de jangadeiro
Ah, lágrima de um guerreiro
Que perdeu por batalhar
Amor ferido, derradeiro
Em barco para Madagascar
Adolá não me diz nada não
Sabe Deus se vou voltar
Não ria, Não é fevereiro
Não ria, Não é fevereiro
Não ria, Não é fevereiro de mim...

Adolá quer dizer até logo em um dialeto africano; E queria pedir ao meu amigo que volte pois a MPB precisa de artistas como você.

Então Adolá para todos:

Beto L. Carvalho
bl_carvalho@yahoo.com.br
blcarvalho@pop.com.br

quarta-feira, julho 28, 2004

O Homem do Piercing

Continuando falando sobre uma geração de Nordestinos que sairam da sua terra natal para tentar a vida no "Sul Maravilha", quando Chico César começou a fazer sucesso ele falou de um maranhense que era seu parceiro e que em breve o todo mundo ia querer escutar esse artista que se chama:

Zeca Baleiro

Eu procurei logo quando chegou o disco aqui e pude comprovar a qualidade das poesias que esse maranhense faz e que encantou Gal Costa que o convindou para fazer uma participação no seu Acústico MTV e com isso ele se tornou conhecido no Brasil inteiro fazendo sucesso com seus quatro discos solos e um com parceria:

Por Onde Andará Stephen Fry? 1997
Vô Imbolá 1999
Líricas 2000
PetShopMundoCão 2002
Raimundo Fagner & Zeca Baleiro 2003
 
Os quatro primeiros saíram pela MZA e o último pela Indie Records

Esse último disco reúne duas gerações desses nordestinos que precisam sair daqui para serem reconhecidos na sua terra, pois a sociedade tem o péssimo hábito de não valorizar o que é de casa...
Para fazer a minha homenagem o primeiro grande sucesso dele:

FLOR DA PELE
(Zeca Baleiro)
Música incidental: Vapor Barato(Wally Salomão/ Jards Macalé)
 
Ando tão à flor da pele
Que qualquer beijo de novela me faz chorar
Ando tão à flor da pele
Que teu olhar na janela me faz morrer
 Ando tão à flor da pele
Que meu desejo se confunde com a vontade de não ser
Ando tão à flor da pele
Que a minha pele tem o fogo do juízo final
 Ando tão à flor da pele
Que qualquer beijo de novela me faz chorar
Ando tão à flor da pele
 Que teu olhar na janela me faz morrer
Ando tão à flor da pele
Que meu desejo se confunde com a vontade de não ser
Ando tão à flor da pele
Que a minha pele tem o fogo do juízo final
Um barco sem porto, sem rumo, sem vela,
Cavalo sem sela
Um bicho solto, um cão sem dono, um menino, um bandido
Às vezes me preservo, noutras suicido
Ando tão à flor da pele
Que qualquer beijo de novela me faz chorar
Ando tão à flor da pele
Que teu olhar na janela me faz morrer
Ando tão à flor da pele
Que meu desejo se confunde com a vontade de não ser
Ando tão à flor da pele
Que a minha pele tem o fogo do juízo final
Um barco sem porto, sem rumo, sem vela,
Cavalo sem sela Um bicho solto, um cão sem dono, um menino, um bandido
 Às vezes me preservo, noutras suicido
"Oh sim Eu estou tão cansado mas não pra dizer
Que não acredito mais em você
Eu não preciso de muito dinheiro
Graças a deus
Mas vou tomar aquele velho navio
Aquele velho navio"
Um barco sem porto, sem rumo, sem vela,
Cavalo sem sela Um bicho solto, um cão sem dono, um menino, um bandido
Às vezes me preservo, noutras suicido

Maiores informações no site oficial:

http://www2.uol.com.br/zecabaleiro/

Meu abraço:

Beto L. Carvalho
bl_carvalho@yahoo.com.br
blcarvalho@pop.com.br

 

terça-feira, julho 27, 2004

O Homem do Filá

Um dia eu estava vendo TV e descobri um cantor que tinha um visual diferente mas com uma bela voz e eu me perguntei quem era esse sujeito e percebi que era o mesmo que tinha escutado Lenine falar numa outra entrevista; O nome dele é:

Chico César
 
Paraibano de Catolé do Rocha ele foi na década de 80 para São Paulo e como toda uma geração só veio estourar já nos anos 90 mas hoje em dia pode ser considerado um grande representante deste cenário da música brasileira.
Gravou cinco discos:

aos vivos
Cuzcuz-clã

Beleza mano
Mama mundi
Respeitem meus cabelos, brancos

Ele é um poeta e queria fazer minha homenagem tradicional com a que acho a mais bela letra:

Templo
(Chico César)
Se você olha pra mim
Se me dá atenção
Eu me derreto suave
Neve no vulcão
Se você toca em mim
Alaúde emoção
Eu em desmancho suave
Nuvem no avião
Himalaia himeneu
Esse homem nu sou eu
Olhos de contemplação
Inca maia pigmeu
Minha tribo me perdeu
Quando entrei no templo da paixão 

O site oficial é:

www.uol.com.br/chicocesar

O meu velho abraço:

Beto L. Carvalho
bl_carvalho@yahoo.com.br
blcarvalho@pop.com.br

segunda-feira, julho 26, 2004

Instrumental

Hoje é dia de música instrumental com o grupo Sá Grama que faz o clássico com o popular utilizando a linha armorial criada por Ariano Suassuna na década de 70 com o Quinteto Armorial que tinha entre seus integrantes, Antônio Nóbrega que já falei dele nesse blog.
O Sá Grama é formado por alunos e professores do Conservatório Pernambucano de Música e já tem quatro discos:

Sá Grama
Engenho
Tábua de Pirulito
Trilha sonora do Filme "O Auto da Compadecida"

É um prato cheio de cultura regional feita com qualidade com todos os elementos que se tem nesse nordeste tão rico e divulgar essa cultura.

O site do grupo é:

www.sagrama.com.br

Por hoje é só, meu abraço:

Beto L.Carvalho
bl_carvalho@yahoo.com.br
blcarvalho@pop.com.br

 

domingo, julho 25, 2004

Patativa

Eu hoje eu vou fazer uma homenagem a um poeta popular do nosso nordeste, o cearense Patativa do Assaré que eu conheci em 1985 pois em virtude de uma enchente que tivemos aqui no sertão que vivia uma seca braba e era moda se fazer discos para se arrecadar dinheiro para ajudar as vítimas, como por exemplo:

We are The World - Usa For Africa

Aqui no Brasil tivemos o Nordeste Já, um compacto que se comprava nas agências da Caixa, salvo engano, e tinha uma música que fooi criaçõa coletiva:

Chega de Mágoa

E uma que foi feita sobre um poema dele:

Seca d´água

E ela dizia assim:

"É triste para o nordeste o que a natureza fez, mandou cinco anos de seca e uma chuva em cada mês e agora em 85 mandou tudo de uma vez...
... A sorte do nordestino é mesmo de fazer dó, Seca sem chuva é ruim mas Seca d´água é pior..."

Hoje em dia temos que enaltecer um poeta semi analfabeto que publicou livros com poesias maravilhosas e com isso temos que nos orgulhar dessas façanhas e acreditar que as dificuldades são para serem superadas...

Procurem saber mais infomações sobre este poeta popular no site:

http://www.tanto.com.br/Patativa.htm

Eu gostaria de encerrar essa homenagem com um dos mais belos poemas que foi gravado por Luiz Gonzaga:

A Triste Partida
(Patativa de Assaré)
Meu Deus, meu Deus,
Passou-se setembro outubro e novembro,
Estamos em Dezembro
Meu Deus que é de nós
Assim diz o pobre do seco Nordeste com medo da peste e da fome feroz
A treze do mês fez a experiência perdeu sua crença

Nas pedras de sal com outra esperança com gosto
Se agarra pensando na barra do alegre Natal
Passou-se o Natal e a barra não veio

O sol tão vermeio nasceu muito além
na copa da mata buzina a cigarra
Ninguém vê a barra pois barra não tem
Sem chuva na terra descamba janeiro até fevereiro

No mesmo verão reclama o roceiro dizendo consigo:
Meu Deus é castigo não chove mais não
Apela pra março o mês preferido do santo querido senhor São José

Sem chuva na terra está tudo sem jeito lhe foge do peito o resto da fé
Assim diz o velho sigo noutra trilha convida a família e começa a dizer:

Eu vendo o burro o jumento e o cavalo nós vamos a São Paulo viver ou morrer
Nós vamos a São Paulo que a coisa está feita

Por terra alheia nós vamos vagar
Se o nosso destino não for tão mesquinho pro mesmo cantinho nós torna a voltar
Venderam o burro jumento e cavalo até mesmo o galo venderam também

E logo aparece um feliz fazendeiro por pouco dinheiro lhe compra o que tem
Em cima do carro se junta a família chega o triste dia já vão viajar

A seca é terrível que tudo devora lhe bota pra fora do torrão natá
No segundo dia já tudo enfadado o carro embalado veloz a correr

O pai de família triste e pesaroso um filho choroso começa a dizer
De pena e saudade papai, sei que morro meu pobre cachorro quem dá de comer?

E outro responde: Mamãe, o meu gato da fome e maltrato mimi vai morrer
A mais pequenina tremendo de medo mamãe, meu brinquedo

E meu pé de fulô a minha roseira sem água ela seca e minha boneca também lá ficou
Assim vão deixando com choro e gemido seu norte querido um céu lindo azul

O pai de família nos filhos pensando o carro rodando na estrada do sul
O carro embalado no topo da serra olhando pra terra seu berço seu lar

Aquele nortista partido de pena de longe acena adeus, Ceará
Chegaram em São Paulo sem cobre e quebrado o pobre acanhado procura um patrão

Só vê cara feia de uma estranha gente tudo é diferente do caro torrão
Trabalha um ano dois anos mais anos e sempre no plano de um dia inda vim

O pai de família triste maldizendo assim vão sofrendo tormento sem fim
O pai de família ali vive preso sofrendo desprezo

E devendo ao patrão o tempo passando vai dia e vem dia
Aquela família não volta mais não
Se por acaso um dia ele tem por sorte notícia do Norte

O gosto de ouvir saudade no peito lhe bate de molhos
As águas dos olhos começam a cair
Distante da terra tão seca mas boa sujeito a garoa a lama e o pau

É triste se ver um nortista tão bravo viver sendo escravo na terra do Sul

Um grande abraço:

Beto L. Carvalho
bl_carvalho@yahoo.com.br
blcarvalho@pop.com.br