sábado, maio 21, 2005

Artigos de um Recente Grande Amigo 7


Homenagem a uma Professora


Hoje encerrando essa primeira fase de artigos de Pedro Procópio temos como tema uma peça que tivemos o privilégio de assistir a estréia...
Ela foi escrita e dirigida por minha coordenadora do curso, a Cláudia Sansil que fez um exercicio sobre a loucura muito interessante...
No titulo temos o primeiro artigo de Pedro publicado aqui no blog no inicio do mês...
A peça estará em cartaz hoje no Teatro Capiba, no Sesc Casa Amarela às 20:00 R$ 5,00 não percam, pois depois só em julho...


A Jaula: O Espaço da Sanidade Insana.
Pedro Paulo Procópio


O que fazer com os nossos problemas? E com os nossos medos e sentimentos constrangedores? Coloque-os em uma jaula. Opção simples, prática e confortável para o mundo contemporâneo. Os animais selvagens que só nos interessam nas raras visitas ao zôo ou ao circo parecem um bom exemplo do conforto que esse ambiente gradeado propicia. Aos que vêem de fora, naturalmente.
Ao assistirmos à peça (monólogo) Jaula: Um Exercício Sobre a Loucura. Trabalho escrito e dirigido pela estreante dramaturga Cláudia Sansil, com a atriz Sueila Vasconcelos e cenário assinado por Weydson Ferraz, notamos que há algo lá dentro que parece ter mais vida que um chipanzé ou um dromedário, na realidade, um de nós está preso.
Sim. Colocamos nesse espaço, normalmente reservado aos irracionais, uma jovem de talvez vinte anos de idade. Mas, por que falar de anos de vida? Ela não tem uma, mesmo que pareça bem viva através dos surtos. Amor?! Jamais recebeu. Sanidade. A sua realidade é insana – porém – com um coquetel de verdades, reflexões, filosofia.
Cilene, nossa personagem, inverte o enredo e aprisiona a platéia. Há na sala um ar reflexivo, compenetrado e todos parecem por um instante voltar às atenções a questão dos manicômios no país; ao sofrimento de pessoas tão iguais e diferentes ao mesmo tempo. “Cilenes” que pela praticidade do mundo moderno devem calar-se, vagar num universo de dor, incompreensão e, confortavelmente, falar apenas com suas vozes interiores. Os gritos e perguntas intrigantes da louca, como ela própria afirma, parecem desenhar uma interrogação em cada testa.
Essas vozes interiores da jovem mulher, quase menina, aterrorizam. A verdade aterroriza. Descobrir que a falta de conversa entre pais e filhos, além da vergonha de ter alguém com distúrbio psiquiátrico na família, podem reverberar num caso idêntico ao assistido nos leva a repensar posicionamentos arcaicos.
Com uma atuação no melhor estilo Stanislavsky, da atriz Sueila Vasconcelos e uma realidade que trata de temas tão polêmicos como aborto, incesto, entre outros, o trabalho consegue de forma encantadora e surpreendente falar de amor. Incrível como algo tão abstrato pode evitar mais dores que qualquer medicamento.
Em meio a tanto sofrimento, aliando-se a questões dignas dos maiores especialistas em ciências sociais e comportamento humano, o texto de Cláudia Sansil levanta uma bandeira. Os mais sensíveis a enxergarão; os mais céticos irão refletir; todos – independente de rótulo – apreciarão. Afinal, mostrar que amor – dignidade e loucura estão no mesmo limiar, acende um único desejo: amar, amar, amar... sempre.

Um abraço para todos:

Beto L. Carvalho
Carpe Diem

Escritor Solitário

sexta-feira, maio 20, 2005

Artigos de um Recente Grande Amigo 6


Senhor Antônio Brasileiro

No penúltimo artigo do jornalista e meu professor Pedro Procópio teremos um como tema um dos maiores compositores brasileiros...
Tom Jobim sempre elevou o nome do Brasil por todo o mundo...
No titulo tem o link para o primeiro artigo de Pedro publicado aqui no blog no inicio do mês...

Tom Jobim: O tom do Brasil para o mundo
Pedro Paulo Procópio

"Para nossas elites, sempre houve uma guerra entre Cultura como civilização e cultura como estilo de vida ignorante e atrasado". É com essa afirmação do sociólogo e escritor Roberto DaMatta que este ensaio inicia suas argumentações, mostrando através do exemplo do maestro Antônio Carlos Jobim a beleza do movimento artístico e sua essência na mistura de dados sensações fluxo de idéias.
O hibridismo gostoso e salutar entre o erudito e o popular; A inserção majestosa da música brasileira em uma cultura globalizada e ávida por novidades. A referência de todo esse jogo e a interpenetração de conceitos aparentemente tão difusoa está viva na obra dele:
Tom Jobim
Tom foi um dos responsáveis pelo referido processo que levou uma suposta cultura inferior, a do c minúsculo, ao reconhecimento mundial com o louvor da critica e a aceitação do público que faze parte da Cultura do C maiúsculo. Trocando em miúdos Tom Jobim não ficou preso ao conservadorismo, a preservação de um bem cultural. O compositor não fechou as possibilidades de aperfeiçoar a sua arte, ao contrario, misturou tendências, encantou mercados e fez a nossa bossa arrasar. Mostrou-a ao planeta.
A prova mais contundente de toda essa mistura é a versão da música “Garota de Ipanema” em inglês (The Girl from Ipanema), lançada em 1964 junto com outras músicas de sua autoria. A composição “Garota de Ipanema” de 1962 (versão em português), feita em parceria com Vinicius de Moraes, deixa claro desde o inicio, o caráter global de sua obra e o vigor do maestro em cruzar fronteiras geográficas e culturais. Em 21 de novembro de 1962, portanto há pouco mais de quarenta anos Tom viajava pela primeira vez e realiza o Show da Bossa Nova no Carnegie Hall, Nova Iorque. Já no ano seguinte tenta gravar as suas músicas na América e em 1964 é lançado o LP “The Wonderful World of Antônio Carlos Jobim”.
Em 30 de agosto de 1966 Tom chega a Los Angeles, Califórnia, para gravar o primeiro disco com Frank Sinatra. Seria esse o encontro da “cultura” com a “Cultura”? Certamente não porque não há cultura inferior e muito menos algo totalmente local intocável. O maestro Jobim provou isso nos anos 60, permanecendo contemporâneo ao ter globalizado suas canções e presenteado o mundo com a Bossa Nova.
“Garota de Ipanema” embalava os brasileiros nos anos 60, era uma espécie de hino da beleza da mulher brasileira, seus encantos, sua ginga e por que não um aspecto cultural de sua forma de vida? Essa canção ganhou o mundo. Ainda hoje é capaz de emocionar qualquer brasileiro em um café na Europa ou em outra parte do planeta. Antes de ter sido erudito ou popular Tom Jobim foi híbrido, permaneça atual e provou a importância do artista tupiniquim abrir possibilidades, vislumbrar situações novas, cantar, encantar. Encantar mais que o Brasil. Ganhar o mundo.


Um abraço:
Beto L. Carvalho
Carpe Diem

quinta-feira, maio 19, 2005

Artigos de um Recente Grande Amigo 5


Um Documentário de Kátia Lund

O quinto artigo de Pedro Procópio é sobre um documentário sobre violência feito pela Kátia Lund co-diretora do grande sucesso Cidade de Deus...
No titulo te, o primeiro artigo dele publicado no blog no inicio do mês...
Estamos recebendo colaborações, artigos sobre cultura brasileira, quem se interessar pode deixar o contato nos comentários...


Guerra Particular – Pessimismo Coletivo.
Pedro Paulo Procópio


Com direção de Kátia Lund, a mesma diretora de Cidade de Deus e depoimento do autor do livro que deu origem ao filme, Paulo Lins, o curta metragem Cenas de uma Guerra Particular é antes de mais nada um documento.
Documento? Sim, porque nele está contido o que há de mais importante para qualquer ser humano: a vida – ou melhor – o quanto ela é banal. Contraditório? Talvez. Chocante? Deprimente? Não resta dúvida.
Sem um narrador fixo, a história vai se desenrolado e surpreendendo àqueles que a assistem. A desesperança é relatada por cada ator, ou melhor, personagem.
Pessoas comuns relatam toda a sua dor. A dor, aliás, é uma espécie de componente impregnado na vida de crianças, adolescentes, civis, traficantes, policias, enfim dos que têm a oportunidade de falar.
Apesar do próprio morador da favela expor suas dificuldades diante do tráfico, da violência, do caos no Rio de Janeiro; o vídeo não é feito só de emoção.
Em sua abertura , quando ainda há uma narração específica, o filme aponta indicadores – como o número de envolvidos com o narcotráfico, por exemplo, e é extremamente informativo. Para que você tenha uma idéia, o número pode chegar a cem mil “narcofuncionários”.
Cenas de uma Guerra Particular é bem articulado, por isso impressiona, revolta. Todos têm chance de dizer o que sentem: descrença. Isso fica evidente em vários momentos, se não em todos.
O capitão Pimentel, do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), fala da existência de uma guerra quase que particular entre bandidos e policias, além disso, afirma: “não vejo luz , não há esperança.”
O próprio chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro na época (final da década de 90), Hélio Luz, concorda com Pimentel e vai mais adiante. Hélio luz, confirma o envolvimento de policiais com o crime organizado. “A polícia rouba!” – diz friamente. Meses depois dessa afirmação foi afastado do cargo. Hoje é deputado estadual pelo estado do Rio.
Certamente, o título do documentário nasceu da afirmação de Pimentel. Mas, é o cotidiano, como nos mostra o trabalho de Kátia Lund, o responsável pelo profundo pessimismo. Confira as palavras do capitão: “O familiar nem pergunta mais como foi o teu dia. Estou cansado.”
Se o discurso de Pimentel não for capaz de tocar os mais frívolos, tudo bem, porque sem dúvida, Cenas de Uma Guerra Particular – em algum momento chamará a atenção mesmo dos céticos. Alcançará assim, o objetivo da denúncia, do despertar para problemáticas bem mais complexas que a simples insegurança.
Para você se sentir envolvido pela história - que tal ouvir de um menino de uns quinze anos, que matou um homem queimado aos onze, sente-se normal por isso e lamenta não ter assassinado um PM ainda? Tal cena deixa claro o propósito do enredo.
O povo tem liberdade para falar e a riqueza da trama está aí. Os moradores falam da íntima relação com os fora da lei, elevando-os à uma categoria heróica. Para uma moradora de meia idade do morro, apresentada como Janete, o bandido protege a comunidade, paga os remédios... faz o papel do Estado, afinal.
Justo. Eis aí uma característica marcante, porque se um dos envolvidos na história reporta algo, o seu oponente tem a mesma chance. Seja um PM ou um bandido. Há, portanto uma coerência de fatos – informações – sofrimento... um morre, o outro também, um chora, o outro soluça. Talvez fosse interessante o depoimento de um mero consumidor – mas isso não interfere na qualidade do produto final.
Mesmo trazendo fatos altamente negativos o vídeo é um convite a reflexão. E só através dessa reflexão podemos despertar para soluções, por isso apesar de tanto ódio e incredulidade – a esperança não fica enterrada ao assistirmos a Cenas de Uma Guerra Particular. O barulho da AR-15 parece que nos faz acordar e refletir acerca de uma luta menos injusta pela sobrevivência.
Um abraço para todos:
Beto L. Carvalho
Carpe Diem

quarta-feira, maio 18, 2005

Artigos de um Recente Grande Amigo 4


Um dos Melhores Filmes Nacionais

O quarto artigo fala sobre um dos melhores filmes dos últimos tempos feitos aqui no Brasil nas palavras de Pedro Procópio...
No titulo tem o primeiro dele publicado aqui no blog...
Não deixem de ler...

OLGA: suspiros, lágrimas, emoção. A ordem você escolhe.
Pedro Paulo Procópio


“Um presente de Vargas para Hitler”. Esse presente: Olga. O espectador confrontado com a dor, a esperança, os sonhos... O “ser humano espectador” bem próximo do “ser humano representação”. Momentos de humilhação – medo – desamparo - se confundem com momentos de profundo amor – paixão – encantamento. Daí franzimos a testa – há uma dúvida! É um romance? Um relato histórico? Um drama? Pouco importa, entregue-se a magia da trama e faça apenas uma coisa: suspire.
Suspirar... isso é o que farão alguns; chorar, os mais sensíveis o farão; emocionar-se e viajar com os personagens através do tempo – pela Alemanha nazista – Brasil – Rússia...isso fará qualquer um que assistir ao filme OLGA.
A propósito, o filme fez nevar em pleno Rio de Janeiro. Uma antiga fábrica foi transformada em campo de concentração nazista e a equipe de produção usou efeitos especiais para imitar com perfeição o rigoroso inverno europeu. Mas, o coração inquieto e congelado de angústia ao assistir as cenas de tortura, injustiça e assassinatos, é real. Pode até ser o seu – para isso: assista a OLGA.
Dentre tantas cenas duras há instantes de beleza e apesar do imenso clima de tristeza que paira sobre a película, há algumas passagens que nos fazem redobrar a atenção – refletir e , pasme, dar um sorriso singelo. Talvez meio infantil – derretendo um pouco do gelo que ficou em nosso coração durante as partes de maior temor. Olga, escondida no subúrbio carioca, olha discretamente pela janela a beleza do carnaval das colombinas dos anos 40. O sorriso meigo de quem viu o seu primeiro carnaval, sem entender muito bem o motivo de tanta alegria, nos contagia.
Ficamos extasiados também com as cenas de amor envolvendo Olga e Prestes. Fotografia envolvente. Tentar adjetivar o filme pode parecer lugar-comum, no entanto, seria injusto não ressaltar o trabalho esmerado de diretor, elenco, produtores e todos os envolvidos no projeto. Economizar ao relatar as qualidades do trabalho de Jayme Monjardim – baseado na obra de Fernando Morais – representaria roubar do leitor o direito de estar preparado para embarcar num universo no qual amor e horror nunca estiveram tão próximos.
Desleixado, no mínimo, não citar os nomes dos protagonistas da trama que junto com Monjardim e Rita Buzzar, que escreveu e produziu o filme, foram responsáveis por um trabalho que produziu mais que um filme, e sim lágrimas – suspiros – emoção. A ordem você escolhe. Camila Morgado, com os seus olhos doces e decididos ao mesmo tempo, nos faz viajar no seu olhar. Além de Camila, Caco Ciocler no papel de Luís Carlos Prestes, nos dá o prazer de conhecer o velho líder comunista.
Assistir à película, refletir e “embarcar” nos navios que trazem Olga ao Brasil e a levam de volta a Alemanha da década de quarenta não nos trará muitas respostas. Impossível entender o Narzismo. Possível entender a crença e a luta por um ideal, facílimo fazermos o mesmo comentário emocionado de Olga Benário: “Brasil, nunca vou entender este país.”


Serviço: para conhecer mais do filme e seus bastidores, acesse
www.olgaofilme.com.br
Um abraço:
Beto L. Carvalho
Carpe Diem

terça-feira, maio 17, 2005

Artigos de um Recente Grande Amigo 3


O Cinema Nacional

No terceiro artigo da série de Pedro Procópio temos um sobre o cinema nacional...
No titulo tem o primeiro artigo dele publicado aqui no blog...
Curtam ele que representa o cinema nacional com os filmes Cidade de Deus e Central do Brasil:


O Cinema e a Crítica da Crítica.
Pedro Paulo Procópio.

O presente artigo tem por objetivo a analisar do papel da crítica na evolução do cinema nacional contemporâneo. O período considerado para a avaliação está compreendido entre 1995 até o momento. A sétima arte no Brasil cresceu em termos qualitativos e quantitativos no intervalo de tempo citado. A crítica faz parte de tal processo – uma vez que se pode garantir a sua idoneidade na imensa maioria de suas intervenções.
Em vista de uma checagem dos filmes de maneira imparcial é possível essa afirmação. Tal fato é constatado de forma clara no momento em que lemos os comentários feitos as películas, pelos principais veículos jornalísticos do país. A crítica nacional de modo global aponta os erros quando necessário e faz comentários valiosos aos trabalhos merecedores de uma boa apreciação.
O crítico de cinema brasileiro ajudou o povo a lotar em muitas ocasiões as salas de projeção – reavivando assim – o gosto pelo cinema “tupiniquim” e a auto-estima do cineasta brasileiro.
Esse profissional tivera sua confiança e motivação abalada pelo período nebuloso vivido entre 1990 e 1994, momento no qual Embrafilme, que até então apoiava a produção nacional foi extinta. O nosso cinema ficou estagnado por completo;exceto pela produção de uns poucos curtas-metragens. O quadro melhorou com o surgimento da lei de incentivo a cultura em 1995.
Neste artigo vamos nos deter ao papel da crítica de dois dos principais filmes nacionais da atualidade – são eles: Central do Brasil (1998), filme dirigido por Walter Salles e ganhador do Urso de Ouro de melhor filme - com Fernanda Montenegro, Vinícius de Oliveira, Marília Pêra, Othon Baston, Sôia Lira, Matheus Nachtergaele, Stella Freitas, Otávio Augusto ; Cidade de Deus (2002), baseado no livro de Paulo Lins e dirigido por de Fernando Meirelles, Co-direção de Kátia Lund. Com: Alexandre Rodrigues, Leandro Firmino da Hora, Phellipe Haagensen, Jonathan Haagensen, Douglas Silva, Graziella Moretto, Alice Braga, Daniel Zettel, Darlan Cunha, Gero Camilo e Matheus Nachtergaele.
O motivo da escolha não poderia ser outro: a repercussão positiva de ambos os trabalhos entre os críticos e até mesmo entre o público não especializado. Um segundo fator determinante é apelo social desses filmes, apelo esse, que ultrapassa a tela do cinema e faz com que o espectador viaje da cabeça ao coração e vice-versa. Em sua viagem ele certamente encontrará respostas para muitos dos conflitos sociais do país.
Conforme garante a maioria dos especialistas e inclusive dos cidadãos comuns - o conteúdo das obras choca ao mesmo tempo em que encanta. Soa contraditório – mas o fato é: os dois filmes têm o poder de transportar o espectador para o mundo da reflexão político-social - como dito outrora de forma mais poética, talvez.
Visando a veiculação de um trabalho melhor elaborado para você leitor do blog e, consequentemente objetivo em suas colocações – as críticas feitas ‘as películas já mencionadas serão avaliadas individualmente para garantir um fiel posicionamento deste artigo.
O filme Central do Brasil fez o brasileiro de todas as regiões voltar a atenção para um drama social e ...mais importante: pensar, sorrir, chorar, se emocionar. A crítica se fez mais uma vez presente nesse momento de reflexão nacional acerca da problemática de um “Brasil sem letras”, mas com fé, ingenuidade e esperança em um milagre. O milagre de viver, ou melhor, sobreviver e sofrer unido. “Mandando notícias”.
A imprensa brasileira uniu-se em prol de um sucesso global ainda maior para Central do Brasil. Os críticos informaram e demonstraram para todo o país o valor – o peso – a importância do trabalho de Walter Salles para o nosso cinema. Mais que uma obra cinematográfica – um tratado social : o Brasil pobre urbano, visitando o Brasil pobre rural.
Foi esse encontro que Levou Salles e o seu elenco a disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro. Foi o entusiasmo de uma crítica unânime quanto as qualidades dessa produção que levou o Brasil a torcer pelo maior prêmio do cinema mundial, da mesma forma que torceu pelo reencontro de Josué e seu pai.
O Oscar... bom – não foi dessa vez, porém, de acordo com a crítica o prêmio foi nosso, foi do povo brasileiro. Os jornais pernambucanos, paulistas, cariocas, gaúchos...enfim – a crítica esteve coesa – mostrando assim – que o seu verdadeiro papel não é apenas apontar falhas e denegrir a imagem da sétima arte nacional , mas sim levar o receptor a analisar bem o que consome.
Outro papel fundamental e indiscutível que a crítica brasileira de cinema vem exercendo é o de entusiasmar o receptor e incentivá-lo a valorizar o que o país produz de bom. Foi assim que agiu em relação a Central do Brasil.
Levantar hipóteses faz parte deste artigo – mas de que valeriam as suposições sem um “mergulho” no mundo real para comprová-las ou ao menos avaliá-las? Portanto, esta análise irá apontar trechos de algumas críticas veiculadas pela grande imprensa e por sites da rede mundial de computadores a respeito de ambos os filmes que são objeto do nosso trabalho. Começaremos por Central do Brasil.
O crítico de cinema Kléber Mendonça Filho do Jornal de Commercio de Pernambuco começa a sua crítica avaliando a linguagem de Central do Brasil. “É um filme que esbanja linguagem sem que isto atrapalhe a sua comunicação com o grande público.” Mendonça vai mais adiante em seu comentário e revela algo encantador. “Central do Brasil sela o desejo cada vez maior de o público brasileiro se apaixonar por um filme de seu país.”
O crítico do JC que já falara de paixão – linguagem e outras qualidades, não esquece da avaliação técnica de Central do Brasil; Kléber Mendonça Filho assina a sua crítica assim: “Esmero deve ser creditado à parte técnica do filme.” Kléber não deixaria de fazer alusão ao maior prêmio do cinema mundial e esbanja um entusiasmo contagiante. “Será perfeito se o filme brasileiro, o mais premiado da história do cinema nacional, realmente conquistar uma estatueta.”
Toda essa “ebuliação” acerca do fenômeno produzido por Walter Salles conquistou a imprensa internacional, levando assim, o enviado especial a Nova York do Estado de São de Paulo, Marcelo Bernardes, a avaliar as críticas feitas pela imprensa especializada norte-americana ao filme brasileiro.
Em matéria publicada pelo Estadão em 28 de julho de 1998 – o jornalista enfatiza a importância do filmes estrangeiros que concorrem ao Oscar serem avaliados pela crítica. Nesse momento – Bernardes – é otimista e garante que Central do Brasil leva vantagem quanto a esse quesito, uma vez que as críticas ao filme são extremamente favoráveis.
O correspondente do Estadão exemplifica as críticas feitas ao filme brasileiro, começando por uma assinada pelo colunista da Variety, a bíblia do show biz americano , Army Archerd. “O melhor do ano”, assim pode ser sintetizada a avaliação desse especialista em sétima arte sobre Central do Brasil. Marcelo Bernardes cita também a avaliação de Peter Travers, da revista Rolling Stone, que aponta a atuação de Fernanda Montenegro como “uma das melhores do ano”, entre outras.
Vamos falar agora de outra obra-prima da cinematografia verde-amarela: Cidade de Deus. Revelador, ousado, realista. Essas são apenas algumas das características dessa película. O documentário prende a atenção do espectador desde o início, trazendo a cada cena um elemento inesperado capaz de surpreender a todos.
É antes de tudo um filme inteligente, mas sem “pedantismo” , ao contrário, é simples e vai direto ao assunto. Há cenas fortes de violência – mas realmente necessárias ao desenvolvimento da trama; não existe aqui o “sangue pelo sangue.”
A realidade é mostrada em sua essência. Ela é “crua”, machuca e não usa “maquiagem”, chocando assim, quem assiste ao filme. Um choque positivo – afinal nos leva a uma compreensão, até mesmo com embasamento teórico, da problemática não apenas do crime organizado, e sim de toda uma sociedade afetada por criminosos , muitos deles nascidos marginalizados por todo um processo político-social.
Como surgiu a violência nos grandes centros urbanos brasileiros? Certamente todos se questionam a esse respeito e várias teorias são levantadas. É chegada ‘a hora de perceber algo de concreto, sem arrodeios, ou teorias com nomes complicados. Cidade de Deus tem esse poder – o poder de levar para a tela grande um Brasil de marginalizados – um Brasil relegado a último plano, mas capaz de amedrontar o “oficial”. Chocar.
Pode-se afirmar de maneira contundente que o objetivo dessa mistura de filme e documentário foi plenamente alcançado. Bilheteria – reconhecimento do público e aclamação da crítica. É um filme vitorioso ao mostrar ao lado de tanta desgraça a façanha de um “garoto diferente.”
Aclamação da crítica. O papel da crítica – tão temida e ‘as vezes mal interpretada – prova mais uma vez que pelo menos na imensa maioria dos casos é justa e leal. Avaliemos algumas das críticas referentes ao filme Cidade de Deus.
“Cidade de Deus, o filme de Fernando Meirelles, é uma transposição extraordinariamente potente do livro de Paulo Lins. Impactante, moderno e visceral.” Walter Salles. Pode parecer a crítica de um colega de profissão , mas não é, a crítica de uma forma geral enxerga em Cidade de Deus um sucesso extraordinário.
“Se o livro já era extraordinário, o filme não fica atrás. Ressuscita em nós todos os clichês para impacto: soco no estômago, “porrada”, choque. Considerando que CIDADE DE DEUS é baseado em histórias reais, nenhum programa de candidato ao governo deveria ser feito sem antes assistir ao filme. Assistir a Cidade de Deus é um dever cívico.” Zuenir Ventura – O Globo. Dever cívico – esse deve ser o objetivo, o fundamento da crítica e, é exatamente essa tarefa que ela vem cumprindo ao aclamar a obra de Fernando Meirelles.
Cidade de Deus e do Diabo – é esse o título da crítica assinada por Luiz Eduardo Soares. Eis a crítica: “Um filme extraordinário: Cidade de Deus, de Fernando Meirelles e Kátia Lund, baseado no romance testemunho homônimo de Paulo Lins. O filme fiel ao livro, relata com sensibilidade e crueza a complexidade humana social.” Sensibilidade. Sem dúvida é essa a característica que os críticos vêm tendo ao avaliar Cidade de Deus.
O crítico de cinema do pernambucano Jornal do Commercio, Kléber Mendonça Filho, assina a sua crítica apontando Cidade de Deus como um ´eletrizante filme social.´ Tem razão, é realmente muita energia na tela. Mendonça vai ainda mais além e garante que o filme faz parte de um dos momentos notáveis da atual safra de cinema nacional.
“Um dos momentos notáveis da atual safra de cinema nacional, parece nos apresentar a imagem poética do povo brasileiro, seja ele rico, pobre, branco, preto ou mameluco, um galináceo aterrorizado pela violência, perdido num labirinto que é o próprio país e que se vê no meio de uma batalha.” Com essa descrição – Kléber Mendonça Filho desperta o seu leitor para o papel contagiante de Cidade de Deus. Para esta crítica sobre a “crítica” (estranho, não?), comprova em definitivo o papel social que os críticos exercem.
“É de tirar o fôlego”- afirma Luís Carlos Merten de O Estado de São Paulo. Certamente é mesmo de tirar o fôlego constatar de forma veemente o quanto uma crítica precisa, imparcial, justa e honesta pode contribuir para a consolidação do cinema brasileiro, ajudando-o a alcançar – óbvio por merecimento – o respeito e o apreço do público. Crítica de qualidade e cinema nacional de sucesso – essa é uma “parceria” que trará ainda mais vitórias e reconhecimento para o nosso país.

Um abraço:
Beto L. Carvalho
Carpe Diem

segunda-feira, maio 16, 2005

Artigos de um Recente Grande Amigo 2


O Pernambucano que Pinta para o Mundo

Continuando a séria de artigos do amigo professor Pedro Procópio, hoje teremos um sobre artes plásticas representado aqui por Romero Britto, um pernambucano que tem um talento reconhecido no mundo inteiro...
No titulo tem o primeiro artigo publicado dele publicado aqui no blog no inicio do mês...
Vamos ao artigo espero que gostem...


Art Nouveau da Crítica à Consagração. E o que Romero Britto tem com isso?
Pedro Paulo Procópio
Ao discutir arte em nosso Estado é improvável o indivíduo iniciado, ou não, deixar de lado a figura de Romero Britto. As suas pinturas com cores fortes e figuras de expressão pouco humana estão atualmente impregnadas mesmo em rótulos de refrigerantes produzidos em Pernambuco, agendas de telefone, entre outros produtos de consumo em massa.
Romero Britto é o pernambucano que encantou os americanos com o seu “mix” de artes plásticas e design; até Bill Clinton consome o que ele produz, o ator Arnold Shwarzenegger também. O crítico de arte julga tal consumo um demérito. Afinal, essas figuras midiáticas não são conhecedoras e muito menos formadoras de opinião nessa área. Cabe a reflexão: até que ponto a arte puramente comercial, decorativa e admirada por um público não específico tem real valor para os “juizes” da arte?
A figura de Romero serve no presente artigo como ligação – ou mesmo uma máquina do tempo para levar-nos até o fim do século XIX e início do século XX. Esse período é composto por um estilo desenvolvido na Europa e nos Estados Unidos, o qual perdurou até meados dos anos 20 do último século. Objetos decorativos, sem força criadora e apenas com objetivos comerciais ganhavam força. Nossa discussão é sobre Art Nouveau. Cerca de um século depois do seu surgimento, cabe uma forte discussão e mergulho nessa esfera artística – alvo de tantas críticas e controvérsias já naquela época.
O art nouveau é um estilo em busca de renovação, procurando opor-se ao ecletismo historicista do séc. XIX. As artes, principalmente a arquitetura e as decorativas, nessa fase de transição e indecisão, procuravam extrair seus exemplos do passado, criando pseudo-estilos neo-renascentistas, neo-românticos, neo-góticos, etc.
O art nouveau dirige-se mais ao chamado esteta, àquele que está sempre pronto a aceitar o dogma da arte pela arte. Será que assim o crítico de arte deveria encarar o trabalho de Romero Britto ao invés de simplesmente tentar diminuí-lo? Arte pela arte. Por essa razão, ou seja, arte sem engajamento, principalmente por excessos decorativos, o art nouveau decaiu após a sua aceitação e durante várias décadas foi motivo de ojeriza como estilo grotesco.
Virada - De 28 de junho a 28 de setembro de 1952 é realizada uma retrospectiva sobre art nouveau no Kunstgewerbemuseum de Zurique, na Suíça. Após o evento iniciaram-se estudos históricos e críticos mais sérios a respeito desse estilo. Mais tarde, os méritos e os defeitos do art nouveau foram melhor enquadrados no contexto de sua época, graças a mostra organizada em 1960-1961 pelo Conselho da Europa (órgão da UNESCO) no Musée National d´Art Moderne de Paris, denominada Les Sources du XXe . Siècle. Por volta de 1963, renasceu na obra de cartazistas, na estamparia de tecidos e na arte publicitária, trazido sob a influência do pop art. Alguma coincidência com a obra de Romero Britto?
Será que daqui há alguns anos os críticos irão repensar a obra de Romero Britto, o qual é ovacionado pelo público leigo de arte ou a idéia do mau gosto vai ser um rótulo definitivo? O tempo trará a resposta. É importante esclarecer que em momento algum o estilo de Britto é comparado ao art nouveau, e sim destacamos no artigo a coincidência em relação ao repúdio que ambos sofreram por parte dos “experts” em arte. Repensemos já.

Um abraço para todos:
Beto L. Carvalho
Carpe Diem

domingo, maio 15, 2005

Artigos de um Recente Grande Amigo


Eu Vim Com a Nação Zumbi

O blog de hoje até o próximo final de semana terá uma mudança radical a forma de suas publicações...
No inicio do mês, mais precisamente no dia dois, eu publiquei um artigo de um professor meu falando sobre como Pernambuco pode vender melhor a sua imagem...
E ele escreve de uma forma muito interessante e o pedi alguns textos para colocar aqui no blog, no que fui prontamente atendido, causando grande satisfação para mim...
No titulo tem o link para o primeiro artigo dele publicado aqui no blog...
Então curtam os textos de Pedro Paulo Procópio, o famoso PPP, que começam sobre o mangue beat e não terá letras de músicas essa semana, na próxima voltaremos...
O Pedro é jornalista, especializado em jornalismo cultural e escreve na revista Club, e é professor da Faculdade Pernambucana (Fape)...


Caranguejos de Aço
Da lama ao Caos do Caos a Lama – O Reerguer-se do Crustáceo Pensante.
Pedro P. Procópio

Falar do movimento Mangue beat é antes de qualquer coisa um desafio. É conectar conceitos de indústria cultural, pós-modernismo, culturas periféricas... Enfim, é na realidade buscar idéias concretas capazes de expressar por algum meio o valor dessa manifestação , tão pernambucana e globalizada ao mesmo tempo.
Batidas envolventes, ritmo frenético, um hibridismo total. Rap – hip hop – música eletrônica – maracatu... Maracatu atômico. Como o dizia o principal difusor e pensador do movimento, Chico Science, “Meu maracatu pesa uma tonelada.”
A musicalidade dos “Caranguejos com Cérebro”, como se auto denominaram no manifesto escrito no início dos anos 90 pelos jornalistas e também músicos Fred 04 e Renato L, pretende chacoalhar o universo da música.
E consegue, afinal esses “crustáceos pensantes” conquistaram a Europa durante turnê em 1995 ao lado da já conhecida banda de rock Paralamas do Sucesso, sendo os pernambucanos, a atração número um em diversos eventos. Também se apresentaram na Quinta Avenida em Nova Iorque e encantaram o público ali presente.
A luta dos mangueboys e manguegirls em trilhar a estrada do reconhecimento, jogando com os sons, importando estilos e defendo uma causa, é a maior prova de que a cultura não pode permanecer intacta em uma redoma. Intocável.
“O Maracatu é a raiz de Pernambuco e não pode se juntar a outras expressões musicais.” Balela. A nossa riqueza cultural, o nosso esplendor está na conquista do mercado cultural, no ser ouvido, respeitado, no cantar e encantar.
Pouco importa se estejamos misturado ritmos internacionais. Esquecemos do fenômeno Globalização? A cultura também é um produto – o público é o consumidor. O agrademos.
Pobre, Science, ou Francisco França, se preferir. A realidade desse artista nem sempre foi de glamour ao tentar permear o seu trabalho Estado a fora, país a fora, mundo a fora. O mais importante de todos os ingredientes foi a “patola”, quero dizer a garra.
O escritor Ariano Suassuna, expoente das letras no país, por vezes criticou essa história de “mistura medonha com coisas do estrangeiro,” mas até o mestre Ariano rendeu-se aos encantos do jovem Francisco.
Certa vez o escritor saiu com uma dessas: “Amigo , por quê não Chico Ciência?” Chico Ciência, perdão, Chico Science, terminou por seduzi-lo. Como Ariano chorou a morte do rei do Mangue naquele trágico ano de 97!
Science, conquistou o espaço celeste para cantar suas baladas. Mas, e os seus discípulos e a cena Mangue? Morreram também? A resposta é categórica, não. Conforme o jornalista do site musicalidade, Adilson Pereira, em matéria veiculada em 13 de agosto de 2001, Chico fertilizou o mercado e surgiram novas bandas no Estado, como por exemplo, Cordel do Fogo Encantado, Testículos de Mary, entre outras que se inspiraram no movimento.
Para o jornalista, Chico Science, era um grande marqueteiro. “No bom sentido,” faz questão de frisar. De fato, o que está em jogo é a perpetuação de toda uma história de sucesso, que do “caos a lama” angariou admiradores e mais admiradores por onde passou. Em resumo, fez sucesso.
Adilson Pereira deve estar certo ao versar sobre a fertilidade deixada pelo grande articulador dos “crabs”. A Nação Zumbi, a banda de Chico, não parou. Houve um distanciamento da mídia, como critica o atual vocalista do grupo, Jorge du Peixe. Porém, independente disso, ele garante: “A Nação Zumbi vai chacoalhar de novo o Brasil.”
Tal entusiasmo se dá pelo lançamento do segundo CD, após o falecimento de Chico, lançado em outubro do ano passado. Ao contrário do primeiro álbum - Da Lama ao Caos, lançado pela gigantesca Sony Music em 1993, a gravadora agora é a Trama.
Du Peixe acusa a Sony de não entender a essência do movimento, de pensar o Mangue seria efêmero, comparando a rapaziada de cá aos baianos do Axé.
O músico vai mais além e fala da pressão sofrida para se tornarem uma “monocultura”. “O mangue é calcado na diversidade,” revolta-se. Nos resta seguir em frente, acrescento. É uma continuidade com cara de recomeço!
Continuidade ou recomeço – o que importa mesmo é a força danada desses mutantes.
Espécie de zumbi com homem e caranguejo. É de arrepiar! Os cabras são “arretados” e desde o ano passado se alojaram na terra da garoa para não deixar o canto do beija-flor – sua flor – seu maracatu atômico murchar. O caranguejo é acima de tudo um forte! Qualquer semelhança não é mera coincidência.
Sonho, luta, críticas...De repente o sucesso, em seguida a morte, logo depois o esquecimento. Decepção? Para a Nação Zumbi, apenas novos desafios. Tenho uma dúvida: esses caranguejos são de aço, não são?
O novo líder dessa gente , com nome de Peixe, mas espírito e sangue de caranguejo, está realmente antenado com a complexa indústria cultural, sabe que sem ela não há retomada e os batuques silenciam.
Jorge Du Peixe e a sua “caranguejada” entendem melhor que muitos críticos de arte, o que já foi exposto aqui. A música não é um fenômeno limitado em suas possibilidades de criação e os estilos não são únicos, fechados em teorias impermeáveis.
É por essa consciência que podemos apostar que essa garotada com exoesqueleto inoxidável vai emergir. E para brilhar! O “escamoso” em entrevista ao repórter Rení Tognoni do site Globonews.com em outubro do último ano, revelou: “Meu maracatu é a cultura, os costumes, que pedem passagem para fazer muito barulho. A eletrônica sempre existiu em nosso trabalho, mas agora está mais explícito.”
Tal afirmação contagia de orgulho e esperança os amantes da cena. A Nação Zumbi mistura, hoje, dois ingredientes vitais para a sua saída do Rio Capibaribe e o desaguar em outras águas. Esses elementos são: sofrimento e experiência.
O sofrimento vem de tudo aquilo que o conjunto passou para ser bem sucedido, já a experiência, nasce do despertar para o profissionalismo sem perder a beleza e o fibra do eterno amador.
É perceptível todo o hibridismo do novo trabalho na faixa “O Fogo Anda Comigo,” que recebe a influência do músico jamaicano dos anos 70, David Lynch. Há também canções em inglês – “Amnesia Express” e “Know How” – segundo Du peixe produzidas descaradamente para o mercado internacional. Felizardo público, não? Nos resta cruzar os dedos para os nossos crustáceos pensantes reconquistarem o país e o além-mar.
No que depender de talento, força de vontade, inspiração, transpiração – a meninada chega lá. No mais, a dúvida está desfeita – esses caranguejos são mesmo de aço. Inoxidável – brilha mais!
Um abraço para todos:
Beto L. Carvalho
Carpe Diem