domingo, junho 27, 2004

O Som e a Poesia do Sertão

Estive falando outro dia desse dos cantadores, ou repentistas, se preferirem e me lembrei de uma banda que vem lá de Arcoverde no sertão de Pernambuco e hoje está fazendo sucesso no Rio de Janeiro:

Cordel do Fogo Encantado

É sem dúvida o maior exemplo de resistência, pois com a mistura de percussão com violão fazendo um som nordestino forte com a poesia de Lirinha que representa os grandes mestres poetas populares dessse nosso sertão.
É um dos melhores shows e em disco também que eu vi nos últimos tempos no Brasil.
Seus discos sâo:

Cordel do Fogo Encantado
O Palhaço do Circo sem Futuro


Gostaria de encerrar com dois momentos mais interessantes do primeiro disco que é o poema de Zé da Luz que fez esse poema porque disseram a ele que para falar de amor tem que ser em português correto e ele prova que "num pricisa"; Lirinha o recita num show em Porto Alegre e mostra essa verdadeira maravilha que é a poesia popular; O outro é do próprio Lirinha que é um poema onde mostra que ele é um grande poeta popular:

Ai Se Sêsse
(Zé da Luz)

Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois lá subisse
Mas porém acontecesse de São Pedro
Não abrisse a porta do céu
E fosse te dizer qualquer tolice
E se eu ariminasse
E tu cum eu insistisse
Pra que eu me aresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tavés que nois dois ficasse
Tavés que nois dois caisse
E o céu furado arriasse
E as virgi toda fugisse

O Cordel Estradeiro
(Lirinha)

A bença Manoel Chudu
O meu cordel estradeiro
Vem lhe pedir permissão
Pra se tornar verdadeiro

Pra se tornar mensageiro
Da força do teu trovão
E as asas da tanajura
Fazer voar o sertão

Meu moxotó coroado
De xiquexique e facheiro
Onde a cascavel cachila
Na boca do cangaceiro

Eu também sou cangaceiro
E o meu cordel estradeiro
É cascavel poderosa
É chuva que cai maneira
Aguando a terra quente
Erguendo um véu de poeira
Deixando a tarde cheirosa

É planta que cobre o chão
Na primeira trovoada
A noite que desce fria
Depois da tarde molhada

É seca desesperada
Rasgando o bucho do chão

É inverno e é verão

É canção de lavadeira
Peixeira de Lampião
As luzes do vaga-lume
Alpendre de casarão
A cuia do velho cego
Terreiro de amarração
O ramo da rezadeira
O banzo de fim de feira

Vocês que estão no palácio
Venham ouvir meu pobre pinho
Não tem o cheiro do vinho
Das frutas frescas do Lácio
Mas tem a cor de Inácio
Da serra da Catingueira
Um cantador de primeira
Que nunca foi numa escolha

Pois meu verso é feito a foice
Do cassaco cortar cana
Sendo de cima pra baixo
Tanto corta como espana
Sendo de baixo pra cima
voa do cabo e se dana


Um abraço:

Beto L. Carvalho
bl_carvalho@yahoo.com.br
blcarvalho@pop.com.br

Um comentário:

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