terça-feira, maio 17, 2005

Artigos de um Recente Grande Amigo 3


O Cinema Nacional

No terceiro artigo da série de Pedro Procópio temos um sobre o cinema nacional...
No titulo tem o primeiro artigo dele publicado aqui no blog...
Curtam ele que representa o cinema nacional com os filmes Cidade de Deus e Central do Brasil:


O Cinema e a Crítica da Crítica.
Pedro Paulo Procópio.

O presente artigo tem por objetivo a analisar do papel da crítica na evolução do cinema nacional contemporâneo. O período considerado para a avaliação está compreendido entre 1995 até o momento. A sétima arte no Brasil cresceu em termos qualitativos e quantitativos no intervalo de tempo citado. A crítica faz parte de tal processo – uma vez que se pode garantir a sua idoneidade na imensa maioria de suas intervenções.
Em vista de uma checagem dos filmes de maneira imparcial é possível essa afirmação. Tal fato é constatado de forma clara no momento em que lemos os comentários feitos as películas, pelos principais veículos jornalísticos do país. A crítica nacional de modo global aponta os erros quando necessário e faz comentários valiosos aos trabalhos merecedores de uma boa apreciação.
O crítico de cinema brasileiro ajudou o povo a lotar em muitas ocasiões as salas de projeção – reavivando assim – o gosto pelo cinema “tupiniquim” e a auto-estima do cineasta brasileiro.
Esse profissional tivera sua confiança e motivação abalada pelo período nebuloso vivido entre 1990 e 1994, momento no qual Embrafilme, que até então apoiava a produção nacional foi extinta. O nosso cinema ficou estagnado por completo;exceto pela produção de uns poucos curtas-metragens. O quadro melhorou com o surgimento da lei de incentivo a cultura em 1995.
Neste artigo vamos nos deter ao papel da crítica de dois dos principais filmes nacionais da atualidade – são eles: Central do Brasil (1998), filme dirigido por Walter Salles e ganhador do Urso de Ouro de melhor filme - com Fernanda Montenegro, Vinícius de Oliveira, Marília Pêra, Othon Baston, Sôia Lira, Matheus Nachtergaele, Stella Freitas, Otávio Augusto ; Cidade de Deus (2002), baseado no livro de Paulo Lins e dirigido por de Fernando Meirelles, Co-direção de Kátia Lund. Com: Alexandre Rodrigues, Leandro Firmino da Hora, Phellipe Haagensen, Jonathan Haagensen, Douglas Silva, Graziella Moretto, Alice Braga, Daniel Zettel, Darlan Cunha, Gero Camilo e Matheus Nachtergaele.
O motivo da escolha não poderia ser outro: a repercussão positiva de ambos os trabalhos entre os críticos e até mesmo entre o público não especializado. Um segundo fator determinante é apelo social desses filmes, apelo esse, que ultrapassa a tela do cinema e faz com que o espectador viaje da cabeça ao coração e vice-versa. Em sua viagem ele certamente encontrará respostas para muitos dos conflitos sociais do país.
Conforme garante a maioria dos especialistas e inclusive dos cidadãos comuns - o conteúdo das obras choca ao mesmo tempo em que encanta. Soa contraditório – mas o fato é: os dois filmes têm o poder de transportar o espectador para o mundo da reflexão político-social - como dito outrora de forma mais poética, talvez.
Visando a veiculação de um trabalho melhor elaborado para você leitor do blog e, consequentemente objetivo em suas colocações – as críticas feitas ‘as películas já mencionadas serão avaliadas individualmente para garantir um fiel posicionamento deste artigo.
O filme Central do Brasil fez o brasileiro de todas as regiões voltar a atenção para um drama social e ...mais importante: pensar, sorrir, chorar, se emocionar. A crítica se fez mais uma vez presente nesse momento de reflexão nacional acerca da problemática de um “Brasil sem letras”, mas com fé, ingenuidade e esperança em um milagre. O milagre de viver, ou melhor, sobreviver e sofrer unido. “Mandando notícias”.
A imprensa brasileira uniu-se em prol de um sucesso global ainda maior para Central do Brasil. Os críticos informaram e demonstraram para todo o país o valor – o peso – a importância do trabalho de Walter Salles para o nosso cinema. Mais que uma obra cinematográfica – um tratado social : o Brasil pobre urbano, visitando o Brasil pobre rural.
Foi esse encontro que Levou Salles e o seu elenco a disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro. Foi o entusiasmo de uma crítica unânime quanto as qualidades dessa produção que levou o Brasil a torcer pelo maior prêmio do cinema mundial, da mesma forma que torceu pelo reencontro de Josué e seu pai.
O Oscar... bom – não foi dessa vez, porém, de acordo com a crítica o prêmio foi nosso, foi do povo brasileiro. Os jornais pernambucanos, paulistas, cariocas, gaúchos...enfim – a crítica esteve coesa – mostrando assim – que o seu verdadeiro papel não é apenas apontar falhas e denegrir a imagem da sétima arte nacional , mas sim levar o receptor a analisar bem o que consome.
Outro papel fundamental e indiscutível que a crítica brasileira de cinema vem exercendo é o de entusiasmar o receptor e incentivá-lo a valorizar o que o país produz de bom. Foi assim que agiu em relação a Central do Brasil.
Levantar hipóteses faz parte deste artigo – mas de que valeriam as suposições sem um “mergulho” no mundo real para comprová-las ou ao menos avaliá-las? Portanto, esta análise irá apontar trechos de algumas críticas veiculadas pela grande imprensa e por sites da rede mundial de computadores a respeito de ambos os filmes que são objeto do nosso trabalho. Começaremos por Central do Brasil.
O crítico de cinema Kléber Mendonça Filho do Jornal de Commercio de Pernambuco começa a sua crítica avaliando a linguagem de Central do Brasil. “É um filme que esbanja linguagem sem que isto atrapalhe a sua comunicação com o grande público.” Mendonça vai mais adiante em seu comentário e revela algo encantador. “Central do Brasil sela o desejo cada vez maior de o público brasileiro se apaixonar por um filme de seu país.”
O crítico do JC que já falara de paixão – linguagem e outras qualidades, não esquece da avaliação técnica de Central do Brasil; Kléber Mendonça Filho assina a sua crítica assim: “Esmero deve ser creditado à parte técnica do filme.” Kléber não deixaria de fazer alusão ao maior prêmio do cinema mundial e esbanja um entusiasmo contagiante. “Será perfeito se o filme brasileiro, o mais premiado da história do cinema nacional, realmente conquistar uma estatueta.”
Toda essa “ebuliação” acerca do fenômeno produzido por Walter Salles conquistou a imprensa internacional, levando assim, o enviado especial a Nova York do Estado de São de Paulo, Marcelo Bernardes, a avaliar as críticas feitas pela imprensa especializada norte-americana ao filme brasileiro.
Em matéria publicada pelo Estadão em 28 de julho de 1998 – o jornalista enfatiza a importância do filmes estrangeiros que concorrem ao Oscar serem avaliados pela crítica. Nesse momento – Bernardes – é otimista e garante que Central do Brasil leva vantagem quanto a esse quesito, uma vez que as críticas ao filme são extremamente favoráveis.
O correspondente do Estadão exemplifica as críticas feitas ao filme brasileiro, começando por uma assinada pelo colunista da Variety, a bíblia do show biz americano , Army Archerd. “O melhor do ano”, assim pode ser sintetizada a avaliação desse especialista em sétima arte sobre Central do Brasil. Marcelo Bernardes cita também a avaliação de Peter Travers, da revista Rolling Stone, que aponta a atuação de Fernanda Montenegro como “uma das melhores do ano”, entre outras.
Vamos falar agora de outra obra-prima da cinematografia verde-amarela: Cidade de Deus. Revelador, ousado, realista. Essas são apenas algumas das características dessa película. O documentário prende a atenção do espectador desde o início, trazendo a cada cena um elemento inesperado capaz de surpreender a todos.
É antes de tudo um filme inteligente, mas sem “pedantismo” , ao contrário, é simples e vai direto ao assunto. Há cenas fortes de violência – mas realmente necessárias ao desenvolvimento da trama; não existe aqui o “sangue pelo sangue.”
A realidade é mostrada em sua essência. Ela é “crua”, machuca e não usa “maquiagem”, chocando assim, quem assiste ao filme. Um choque positivo – afinal nos leva a uma compreensão, até mesmo com embasamento teórico, da problemática não apenas do crime organizado, e sim de toda uma sociedade afetada por criminosos , muitos deles nascidos marginalizados por todo um processo político-social.
Como surgiu a violência nos grandes centros urbanos brasileiros? Certamente todos se questionam a esse respeito e várias teorias são levantadas. É chegada ‘a hora de perceber algo de concreto, sem arrodeios, ou teorias com nomes complicados. Cidade de Deus tem esse poder – o poder de levar para a tela grande um Brasil de marginalizados – um Brasil relegado a último plano, mas capaz de amedrontar o “oficial”. Chocar.
Pode-se afirmar de maneira contundente que o objetivo dessa mistura de filme e documentário foi plenamente alcançado. Bilheteria – reconhecimento do público e aclamação da crítica. É um filme vitorioso ao mostrar ao lado de tanta desgraça a façanha de um “garoto diferente.”
Aclamação da crítica. O papel da crítica – tão temida e ‘as vezes mal interpretada – prova mais uma vez que pelo menos na imensa maioria dos casos é justa e leal. Avaliemos algumas das críticas referentes ao filme Cidade de Deus.
“Cidade de Deus, o filme de Fernando Meirelles, é uma transposição extraordinariamente potente do livro de Paulo Lins. Impactante, moderno e visceral.” Walter Salles. Pode parecer a crítica de um colega de profissão , mas não é, a crítica de uma forma geral enxerga em Cidade de Deus um sucesso extraordinário.
“Se o livro já era extraordinário, o filme não fica atrás. Ressuscita em nós todos os clichês para impacto: soco no estômago, “porrada”, choque. Considerando que CIDADE DE DEUS é baseado em histórias reais, nenhum programa de candidato ao governo deveria ser feito sem antes assistir ao filme. Assistir a Cidade de Deus é um dever cívico.” Zuenir Ventura – O Globo. Dever cívico – esse deve ser o objetivo, o fundamento da crítica e, é exatamente essa tarefa que ela vem cumprindo ao aclamar a obra de Fernando Meirelles.
Cidade de Deus e do Diabo – é esse o título da crítica assinada por Luiz Eduardo Soares. Eis a crítica: “Um filme extraordinário: Cidade de Deus, de Fernando Meirelles e Kátia Lund, baseado no romance testemunho homônimo de Paulo Lins. O filme fiel ao livro, relata com sensibilidade e crueza a complexidade humana social.” Sensibilidade. Sem dúvida é essa a característica que os críticos vêm tendo ao avaliar Cidade de Deus.
O crítico de cinema do pernambucano Jornal do Commercio, Kléber Mendonça Filho, assina a sua crítica apontando Cidade de Deus como um ´eletrizante filme social.´ Tem razão, é realmente muita energia na tela. Mendonça vai ainda mais além e garante que o filme faz parte de um dos momentos notáveis da atual safra de cinema nacional.
“Um dos momentos notáveis da atual safra de cinema nacional, parece nos apresentar a imagem poética do povo brasileiro, seja ele rico, pobre, branco, preto ou mameluco, um galináceo aterrorizado pela violência, perdido num labirinto que é o próprio país e que se vê no meio de uma batalha.” Com essa descrição – Kléber Mendonça Filho desperta o seu leitor para o papel contagiante de Cidade de Deus. Para esta crítica sobre a “crítica” (estranho, não?), comprova em definitivo o papel social que os críticos exercem.
“É de tirar o fôlego”- afirma Luís Carlos Merten de O Estado de São Paulo. Certamente é mesmo de tirar o fôlego constatar de forma veemente o quanto uma crítica precisa, imparcial, justa e honesta pode contribuir para a consolidação do cinema brasileiro, ajudando-o a alcançar – óbvio por merecimento – o respeito e o apreço do público. Crítica de qualidade e cinema nacional de sucesso – essa é uma “parceria” que trará ainda mais vitórias e reconhecimento para o nosso país.

Um abraço:
Beto L. Carvalho
Carpe Diem

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