sábado, maio 21, 2005

Artigos de um Recente Grande Amigo 7


Homenagem a uma Professora


Hoje encerrando essa primeira fase de artigos de Pedro Procópio temos como tema uma peça que tivemos o privilégio de assistir a estréia...
Ela foi escrita e dirigida por minha coordenadora do curso, a Cláudia Sansil que fez um exercicio sobre a loucura muito interessante...
No titulo temos o primeiro artigo de Pedro publicado aqui no blog no inicio do mês...
A peça estará em cartaz hoje no Teatro Capiba, no Sesc Casa Amarela às 20:00 R$ 5,00 não percam, pois depois só em julho...


A Jaula: O Espaço da Sanidade Insana.
Pedro Paulo Procópio


O que fazer com os nossos problemas? E com os nossos medos e sentimentos constrangedores? Coloque-os em uma jaula. Opção simples, prática e confortável para o mundo contemporâneo. Os animais selvagens que só nos interessam nas raras visitas ao zôo ou ao circo parecem um bom exemplo do conforto que esse ambiente gradeado propicia. Aos que vêem de fora, naturalmente.
Ao assistirmos à peça (monólogo) Jaula: Um Exercício Sobre a Loucura. Trabalho escrito e dirigido pela estreante dramaturga Cláudia Sansil, com a atriz Sueila Vasconcelos e cenário assinado por Weydson Ferraz, notamos que há algo lá dentro que parece ter mais vida que um chipanzé ou um dromedário, na realidade, um de nós está preso.
Sim. Colocamos nesse espaço, normalmente reservado aos irracionais, uma jovem de talvez vinte anos de idade. Mas, por que falar de anos de vida? Ela não tem uma, mesmo que pareça bem viva através dos surtos. Amor?! Jamais recebeu. Sanidade. A sua realidade é insana – porém – com um coquetel de verdades, reflexões, filosofia.
Cilene, nossa personagem, inverte o enredo e aprisiona a platéia. Há na sala um ar reflexivo, compenetrado e todos parecem por um instante voltar às atenções a questão dos manicômios no país; ao sofrimento de pessoas tão iguais e diferentes ao mesmo tempo. “Cilenes” que pela praticidade do mundo moderno devem calar-se, vagar num universo de dor, incompreensão e, confortavelmente, falar apenas com suas vozes interiores. Os gritos e perguntas intrigantes da louca, como ela própria afirma, parecem desenhar uma interrogação em cada testa.
Essas vozes interiores da jovem mulher, quase menina, aterrorizam. A verdade aterroriza. Descobrir que a falta de conversa entre pais e filhos, além da vergonha de ter alguém com distúrbio psiquiátrico na família, podem reverberar num caso idêntico ao assistido nos leva a repensar posicionamentos arcaicos.
Com uma atuação no melhor estilo Stanislavsky, da atriz Sueila Vasconcelos e uma realidade que trata de temas tão polêmicos como aborto, incesto, entre outros, o trabalho consegue de forma encantadora e surpreendente falar de amor. Incrível como algo tão abstrato pode evitar mais dores que qualquer medicamento.
Em meio a tanto sofrimento, aliando-se a questões dignas dos maiores especialistas em ciências sociais e comportamento humano, o texto de Cláudia Sansil levanta uma bandeira. Os mais sensíveis a enxergarão; os mais céticos irão refletir; todos – independente de rótulo – apreciarão. Afinal, mostrar que amor – dignidade e loucura estão no mesmo limiar, acende um único desejo: amar, amar, amar... sempre.

Um abraço para todos:

Beto L. Carvalho
Carpe Diem

Escritor Solitário

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