domingo, maio 15, 2005

Artigos de um Recente Grande Amigo


Eu Vim Com a Nação Zumbi

O blog de hoje até o próximo final de semana terá uma mudança radical a forma de suas publicações...
No inicio do mês, mais precisamente no dia dois, eu publiquei um artigo de um professor meu falando sobre como Pernambuco pode vender melhor a sua imagem...
E ele escreve de uma forma muito interessante e o pedi alguns textos para colocar aqui no blog, no que fui prontamente atendido, causando grande satisfação para mim...
No titulo tem o link para o primeiro artigo dele publicado aqui no blog...
Então curtam os textos de Pedro Paulo Procópio, o famoso PPP, que começam sobre o mangue beat e não terá letras de músicas essa semana, na próxima voltaremos...
O Pedro é jornalista, especializado em jornalismo cultural e escreve na revista Club, e é professor da Faculdade Pernambucana (Fape)...


Caranguejos de Aço
Da lama ao Caos do Caos a Lama – O Reerguer-se do Crustáceo Pensante.
Pedro P. Procópio

Falar do movimento Mangue beat é antes de qualquer coisa um desafio. É conectar conceitos de indústria cultural, pós-modernismo, culturas periféricas... Enfim, é na realidade buscar idéias concretas capazes de expressar por algum meio o valor dessa manifestação , tão pernambucana e globalizada ao mesmo tempo.
Batidas envolventes, ritmo frenético, um hibridismo total. Rap – hip hop – música eletrônica – maracatu... Maracatu atômico. Como o dizia o principal difusor e pensador do movimento, Chico Science, “Meu maracatu pesa uma tonelada.”
A musicalidade dos “Caranguejos com Cérebro”, como se auto denominaram no manifesto escrito no início dos anos 90 pelos jornalistas e também músicos Fred 04 e Renato L, pretende chacoalhar o universo da música.
E consegue, afinal esses “crustáceos pensantes” conquistaram a Europa durante turnê em 1995 ao lado da já conhecida banda de rock Paralamas do Sucesso, sendo os pernambucanos, a atração número um em diversos eventos. Também se apresentaram na Quinta Avenida em Nova Iorque e encantaram o público ali presente.
A luta dos mangueboys e manguegirls em trilhar a estrada do reconhecimento, jogando com os sons, importando estilos e defendo uma causa, é a maior prova de que a cultura não pode permanecer intacta em uma redoma. Intocável.
“O Maracatu é a raiz de Pernambuco e não pode se juntar a outras expressões musicais.” Balela. A nossa riqueza cultural, o nosso esplendor está na conquista do mercado cultural, no ser ouvido, respeitado, no cantar e encantar.
Pouco importa se estejamos misturado ritmos internacionais. Esquecemos do fenômeno Globalização? A cultura também é um produto – o público é o consumidor. O agrademos.
Pobre, Science, ou Francisco França, se preferir. A realidade desse artista nem sempre foi de glamour ao tentar permear o seu trabalho Estado a fora, país a fora, mundo a fora. O mais importante de todos os ingredientes foi a “patola”, quero dizer a garra.
O escritor Ariano Suassuna, expoente das letras no país, por vezes criticou essa história de “mistura medonha com coisas do estrangeiro,” mas até o mestre Ariano rendeu-se aos encantos do jovem Francisco.
Certa vez o escritor saiu com uma dessas: “Amigo , por quê não Chico Ciência?” Chico Ciência, perdão, Chico Science, terminou por seduzi-lo. Como Ariano chorou a morte do rei do Mangue naquele trágico ano de 97!
Science, conquistou o espaço celeste para cantar suas baladas. Mas, e os seus discípulos e a cena Mangue? Morreram também? A resposta é categórica, não. Conforme o jornalista do site musicalidade, Adilson Pereira, em matéria veiculada em 13 de agosto de 2001, Chico fertilizou o mercado e surgiram novas bandas no Estado, como por exemplo, Cordel do Fogo Encantado, Testículos de Mary, entre outras que se inspiraram no movimento.
Para o jornalista, Chico Science, era um grande marqueteiro. “No bom sentido,” faz questão de frisar. De fato, o que está em jogo é a perpetuação de toda uma história de sucesso, que do “caos a lama” angariou admiradores e mais admiradores por onde passou. Em resumo, fez sucesso.
Adilson Pereira deve estar certo ao versar sobre a fertilidade deixada pelo grande articulador dos “crabs”. A Nação Zumbi, a banda de Chico, não parou. Houve um distanciamento da mídia, como critica o atual vocalista do grupo, Jorge du Peixe. Porém, independente disso, ele garante: “A Nação Zumbi vai chacoalhar de novo o Brasil.”
Tal entusiasmo se dá pelo lançamento do segundo CD, após o falecimento de Chico, lançado em outubro do ano passado. Ao contrário do primeiro álbum - Da Lama ao Caos, lançado pela gigantesca Sony Music em 1993, a gravadora agora é a Trama.
Du Peixe acusa a Sony de não entender a essência do movimento, de pensar o Mangue seria efêmero, comparando a rapaziada de cá aos baianos do Axé.
O músico vai mais além e fala da pressão sofrida para se tornarem uma “monocultura”. “O mangue é calcado na diversidade,” revolta-se. Nos resta seguir em frente, acrescento. É uma continuidade com cara de recomeço!
Continuidade ou recomeço – o que importa mesmo é a força danada desses mutantes.
Espécie de zumbi com homem e caranguejo. É de arrepiar! Os cabras são “arretados” e desde o ano passado se alojaram na terra da garoa para não deixar o canto do beija-flor – sua flor – seu maracatu atômico murchar. O caranguejo é acima de tudo um forte! Qualquer semelhança não é mera coincidência.
Sonho, luta, críticas...De repente o sucesso, em seguida a morte, logo depois o esquecimento. Decepção? Para a Nação Zumbi, apenas novos desafios. Tenho uma dúvida: esses caranguejos são de aço, não são?
O novo líder dessa gente , com nome de Peixe, mas espírito e sangue de caranguejo, está realmente antenado com a complexa indústria cultural, sabe que sem ela não há retomada e os batuques silenciam.
Jorge Du Peixe e a sua “caranguejada” entendem melhor que muitos críticos de arte, o que já foi exposto aqui. A música não é um fenômeno limitado em suas possibilidades de criação e os estilos não são únicos, fechados em teorias impermeáveis.
É por essa consciência que podemos apostar que essa garotada com exoesqueleto inoxidável vai emergir. E para brilhar! O “escamoso” em entrevista ao repórter Rení Tognoni do site Globonews.com em outubro do último ano, revelou: “Meu maracatu é a cultura, os costumes, que pedem passagem para fazer muito barulho. A eletrônica sempre existiu em nosso trabalho, mas agora está mais explícito.”
Tal afirmação contagia de orgulho e esperança os amantes da cena. A Nação Zumbi mistura, hoje, dois ingredientes vitais para a sua saída do Rio Capibaribe e o desaguar em outras águas. Esses elementos são: sofrimento e experiência.
O sofrimento vem de tudo aquilo que o conjunto passou para ser bem sucedido, já a experiência, nasce do despertar para o profissionalismo sem perder a beleza e o fibra do eterno amador.
É perceptível todo o hibridismo do novo trabalho na faixa “O Fogo Anda Comigo,” que recebe a influência do músico jamaicano dos anos 70, David Lynch. Há também canções em inglês – “Amnesia Express” e “Know How” – segundo Du peixe produzidas descaradamente para o mercado internacional. Felizardo público, não? Nos resta cruzar os dedos para os nossos crustáceos pensantes reconquistarem o país e o além-mar.
No que depender de talento, força de vontade, inspiração, transpiração – a meninada chega lá. No mais, a dúvida está desfeita – esses caranguejos são mesmo de aço. Inoxidável – brilha mais!
Um abraço para todos:
Beto L. Carvalho
Carpe Diem

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